Tudo de Novo! busca dar subsidio, ainda que mínimo, aos estudantes de Letras, que muitas vezes não compreendem o que lhes é solicitado ou têm dificuldade na produção de certos gêneros, de modo que tenham uma visualização de materiais já produzidos na academia.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

ABAURRE, M.B., FIAD, R. S. & MAYRINK-SABINSON. Cenas de aquisição de escrita. Campinas, SP: ALB e Mercado de Letras. 1997. Cap. I e II. p. 13-52.


Apontamentos

1.       Em busca de pistas

1.1.    A relevância teórica dos dados singulares
·      “A discussão sobre o estatuto teórico dos dados singulares em ciências humanas foi retomada e explicitada recentemente pelo historiador italiano Carlo Ginzburg.” (p.13)

·      Paradigma indiciário de cunho qualitativo – “modelo epistemológico fundado no detalhe, no resíduo, no episódico, no singular” (p.14)

·      Paradigma produtivo para a investigação dos fatos concernentes à relação sujeito/linguagem.

·      “Princípios metodológicos que garantam rigor às investigações centradas no detalhe e nas manifestações de singularidade.” (p.14). As questões metodológicas cruciais dizem respeito:
o     “Aos critérios de identificação dos dados a serem tomados como representativos do que se quer tomar como ‘singularidade que revela’, uma vez que, em um sentido trivial do termo, qualquer dado é um dado singular.” (p.14)
o     Ao conceito mesmo de ‘rigor metodológico’ de viés qualitativo e não quantitativo.

·      “O olhar do pesquisador está voltado para a singularidade dos dados. No interior desse ‘rigor flexível’ entram em jogo outros elementos, como a intuição do investigador na observação do singular – tal como propõe o paradigma indiciário – formular hipóteses explicativas interessantes para aspectos da realidade que não são captados diretamente, mas, sobretudo, são recuperáveis através de sintomas, indícios.” (p.15)

·      Para os estudos da linguagem os dados idiossincráticos e singulares são de grande relevância, pois “são importantes indícios do processo geral através do qual se vai continuamente constituindo e modificando a complexa relação entre sujeito e a linguagem.” (p.15)

·       “Durante um longo período, os estudos e práticas pedagógicas ignoraram o fato de que os ‘erros’ cometidos pelos aprendizes de escrita/leitura eram, na verdade, preciosos indícios de um processo em curso de aquisição da representação escrita da linguagem, registros dos momentos em que a criança torna evidente a manipulação que faz da própria linguagem.” (p.16)

·      “Os alunos reais precisam também (e urgentemente) voltar a ser vistos em sua singularidade, por ela, em última análise, determinante da história também singular da aquisição da escrita de cada sujeito” (p.17)


1.2.     A natureza singular dos dados da aquisição a linguagem
·              “Muitas vezes, conscientemente ou não, deixamo-nos iludir por ocorrências que tomamos como evidências de nossas hipóteses prévias, caindo assim na armadilha que se esconde por trás de produtos provisórios e tirando conclusões muitas vezes apresadas sobre ‘estágios’ e suas características. Acreditamos estar explicando um processo, podemos estar, muitas vezes, fazendo uma mera descrição de produtos circunstanciais.
Muito frequentemente, portanto, encontraremos, dentre os dados (...) aquelas ocorrências únicas que, em sua singularidade, talvez não voltem a repetir-se jamais, exatamente por representarem instanciações episódicas e locais de uma relação em construção, entre o sujeito e a linguagem. Se considerarmos relevante entender a natureza dessa relação, essas ocorrências podem adquirir o estatuto de preciosos dados, pelo muito que sobre a relação mesma nos podem vir a revelar” (p.18)

·              “Quando chamamos a atenção para o interesse teórico dos episódios e seus dados muitas vezes singulares, (...) fazemos isso no contexto de um conjunto de estudos da linguagem em que à interlocução, aos atores sociais, à micro e macro-história é atribuído um estatuto teórico específico (...) interessada não apenas nas características formais do objeto linguístico, mas, também, no modo e na história da sua constituição e constante mutação. Assim, interessa-nos mais, do ponto de vista teórico, flagrar o instante em que o sujeito demonstra, oralmente ou por escrito, sua preocupação com determinado aspecto formal ou semântico da linguagem. Da mesma forma, ainda que não seja indagação simples, interessa-nos saber que fato singular, que aspecto de contexto, de forma ou de significação linguistica, ou ainda que possível combinação desses fatores pode ter adquirido saliência particular para o sujeito, colocando-se, assim, na origem da sua preocupação, na origem do problema para o qual passa a buscar uma solução, ainda que muitas vezes episódica e circunstancial.” (p.21)

·              “Olhamos com curiosidade e interesse teórico para o singular, o variável, o idiossincrático, o cambiante. No entanto, isso não implica necessariamente falta de interesse teórico pelo regular, pelo sistemático, pelo geral. Não negamos, portanto, a necessidade de buscar também o conhecimento da totalidade.” (p.23)

1.3.    Considerações sobre alguns dados singulares: os episódios de refacção textual
·              Exemplo de um episódio de escrita que constitui uma ocorrência singular.

2.       Um evento singular

2.1.    “A relação do sujeito com a linguagem é mediada, desde sempre, pela sua relação com um OUTRO, interlocutor fisicamente presente  ou representado e necessário ponto de referência para esse sujeito. (...) O processo de aquisição da linguagem, tanto em suas modalidades orais quanto escritas, é visto como parte de um mesmo processo  geral de constituição da relação sujeito/linguagem. O lugar desse processo é a interlocução entre sujeitos que se constituem em outros para seus interlocutores, constituindo-os assim como sujeitos, num constante movimento (...)”. (p.41)

2.2.    “A adoção do paradigma indiciário permite-nos discutir o que se tem afirmado sobre o papel do OUTRO no processo de aquisição de linguagem.” (p.42).

2.3.    “O SUJEITO/OUTRO está em constante movimento, seja ele um aprendiz de escrita em busca de autonomia, ou um letrado já de muito tempo. E o movimento de um SUJEITO/OUTRO afeta o movimento do OUTRO/SUJEITO que, no processo de interlocução com ele se encontra e se confronta.” (p.48)



Texto apresentado na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos III (PLPT III), ofertada no período 2010.2 e ministrada pela professora Denise Lino.


Nenhum comentário:

Postar um comentário